#0 - Definindo um novo marco zero
#0 Quando nossas crenças mudam, nosso comportamento muda.
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O que torna uma pessoa memorável?
Como posso me tornar uma pessoa memorável?
Essas perguntas sempre me intrigaram, afinal, todos queremos fazer parte de alguma história e deixar uma marca, mesmo sem perceber ou saber qual.
Após passar boa parte da minha vida buscando respostas para esses questionamentos, finalmente encontrei uma que me enche de entusiasmo. Por isso, decidi escrever, pois acredito que coisas boas devem ser compartilhadas.
Era uma vez uma menininha
Durante a minha infância, se alguém me perguntasse quem era o meu "ídolo", quem eu admirava ou de qual fã-clube eu faria parte, eu responderia sem hesitar: Johannes Gutemberg. Mas por que eu diria isso? Vamos a uma pequena história do meu passado.
Quando eu tinha cerca de cinco anos, meus avós criaram uma brincadeira: toda semana, após o jantar, nos sentávamos na sala e eu fazia uma apresentação sobre qualquer assunto que despertasse meu interesse. Às vezes eu escolhia o tema, outras vezes meus avós escolhiam, mas o tema em si não era tão relevante. Segundo eles, a intenção da brincadeira era me ensinar, de forma indireta, a falar em público, argumentar sobre diferentes temas, tirar dúvidas, pesquisar, aprender, expor meu ponto de vista, me acostumar a ter a atenção direcionada para mim, entre outras coisas. Era uma forma divertida de me preparar para a vida.
Houve uma apresentação em particular que me marcou muito. Eu me preparei para falar sobre Gutemberg. Agora, imagine: eu, pequenininha, explicando, toda empolgada, como a invenção dele revolucionou a disseminação do conhecimento, possibilitando a produção em massa de livros e, consequentemente, tornando a leitura acessível a todos.
Na época, eu lia livros todas as noites com a minha avó e, sempre que olhava para eles, imaginava como seria minha vida sem ler uma história. Eu me perguntava o que teria acontecido se ele não tivesse criado a "impressora". Será que eu teria o privilégio de ler? Eu me sentia muito grata por ele ter criado algo tão legal.
Sem dúvida, existem inúmeras pessoas que fizeram história, mas Gutemberg foi a primeira pessoa que "conheci" que fez algo que ajudou a mudar o mundo. Depois daquela apresentação, decidi que, independentemente do caminho que seguisse quando crescesse, eu queria ser como ele.
Lembro de uma situação em que minha avó me perguntou, curiosa, o que eu queria dizer com isso. Não falei exatamente dessa forma, mas usei meu avô para explicar meu ponto de vista:
Quando eu dizia que era neta do Ricardo, as pessoas não sabiam muito o que isso significava, afinal, quantos “Ricardos” deveriam existir na minha rua, no meu bairro e no mundo? Não havia um ponto de referência, uma memória afetiva. Mas se eu dissesse que era neta do homem super alto que fazia molhos de pimenta caseiros, de repente todo mundo sabia quem ele era e, se eu tivesse sorte, ainda voltava para casa com vários pedidos de encomenda.
Hoje, há muitos nomes que eu poderia usar para sintetizar esse meu sonho de infância, como autoridade, referência, especialista, mentor e por aí vai. Mas a minha versão de cinco anos estava mais do que satisfeita com "quero ser o Gutemberg quando for grande". Uma criança ambiciosa e cheia de confiança, convenhamos.
Na época, eu não sabia que era esse o nome, mas essa frase foi minha primeira âncora. No contexto da Programação Neurolinguística (PNL), as âncoras são ferramentas poderosas que nos permitem associar um estado emocional desejado a um estímulo específico. Ao criar associações, podemos rapidamente retornar ao estado emocional desejado sempre que precisarmos.
Meu maior sonho, desenvolvendo um pouco melhor o raciocínio, sempre foi direcionar minhas ações e esforços para gerar mudanças positivas e significativas no mundo ao meu redor. Sempre que eu precisava tomar uma decisão, recorria à minha âncora e perguntava a mim mesma se isso ou aquilo me ajudaria a ser como Gutemberg no futuro.
As únicas respostas válidas eram: A. Sim; B. Claro; C. Com certeza.
Engenharia reversa em ação
Eu queria ser como ele, mas antes precisava entender como ele tinha conseguido. Se existia um caminho, uma receita, uma fórmula, eu queria descobrir qual era. Eu me sentia como Indiana Jones embarcando em uma aventura para encontrar o Santo Graal, que concede a imortalidade a quem beber de suas águas.
Johannes Gutemberg, por exemplo, bem antes de desenvolver a prensa de tipos móveis e entrar para a lista de pessoas memoráveis do mundo, trabalhou com ourivesaria, polimento de espelhos, fundição de metais, engenharia e tipografia, apenas para mencionar alguns.
Considerando o escopo de cada um desses ofícios, presumo que ele tinha uma ótima destreza manual, era atento aos detalhes, dominava e conhecia bem os materiais e ferramentas que utilizava, era concentrado, paciente e preciso. Além disso, levando em conta que ele viveu no século XV e que a forma de fazer as coisas era bem diferente da atual, eu também acrescentaria que ele era criativo.
Mas por que mencionei essas coisas? Porque, após pesquisar sobre outras pessoas memoráveis, montei uma lista com as qualidades que elas tinham em comum e que eu precisaria desenvolver nos próximos anos: estudar bastante, ter várias habilidades e ser boa nelas, conhecer temas com profundidade, ser criativa, ser paciente, ter convicção e mais um monte de coisas.
Na época, eu tinha cinco anos e logo faria 18, então, fazendo as contas, eu só tinha 13 anos pela frente para focar no objetivo. Não tinha tempo a perder. Eu pensava que ser grande era ter 18 anos e que, ao chegar lá, minha vida mudaria como num passe de mágica. Rindo de nervoso enquanto escrevo, mas tudo bem.
Muito e muitos anos depois
Dando um bom salto temporal, porque é evidente que há muito chão depois dos 18, em 2021 eu estava concluindo meu trabalho de pós-graduação em criatividade.
Após seis meses de dedicação, com a apresentação marcada para dali a dois meses, um dos professores pediu para saber mais sobre o meu projeto. Animada, fiz uma apresentação breve, destacando os pontos principais e sintetizando meu raciocínio. Quando terminei, ele disse que o trabalho estava muito bom, mas era algo que qualquer pessoa poderia entregar. Ele esperava um projeto que só eu fosse capaz de criar, algo único à minha maneira. Além de avaliar os alunos, ele buscava uma forma de entrar em nossas mentes, entender como pensávamos e como colocávamos nossas “engrenagens” para funcionar.
Como se isso já não fosse suficiente para desencadear um ataque de ansiedade, ele acrescentou que eu seria reprovada caso seguisse com a apresentação do projeto daquela forma e que estava ansioso para ver o que eu faria com o feedback dele, até onde eu iria para mostrar do que realmente era capaz.
Voltei para casa, deitei e chorei. Não pelo feedback, mas pelo desespero de ter que recomeçar e desenvolver tudo em pouquíssimo tempo. A sensação de impotência era terrível, porque eu não fazia a menor ideia do que fazer e como fazer. Como eu ia saber o que só eu podia fazer? Que tipo de pergunta era aquela?
O pior de tudo é que, nessa situação, eu não podia pesquisar, não podia consultar os universitários, não podia pular nem eliminar as alternativas, pois nem sequer existiam alternativas para eu trabalhar.
A única pessoa capaz de me dar essa resposta era eu mesma, e eu não sabia qual era.
Eu tinha um prazo bem apertado e sem muita margem para erro, então peguei um caderno em branco e comecei a anotar tudo o que surgia na minha cabeça. Era como tirar leite de pedra, mas continuei insistindo, na esperança de que, em algum momento, surgisse "a" ideia vencedora.
O tempo estava passando, minha apresentação estava se aproximando e nada estava acontecendo...
Os males que vêm para fazer o bem
Naquela época, eu estava lendo o livro "A Vida Invisível de Addie LaRue" e, em um dado momento, me deparei com a seguinte frase: “Se uma pessoa é incapaz de deixar uma marca no mundo, será que ela existe?” Essa frase despertou algo em mim.
Basta mencionar nomes como Alexander Graham Bell, Galileu Galilei, Marie Curie ou Alfred Nobel, e é fácil reconhecer suas contribuições. Todas essas pessoas são lembradas pelo impacto que geraram para a humanidade.
Eu já estava com 25 anos e sentia que não estava nem perto de me tornar a pessoa que sempre sonhei. As perguntas “o que torna uma pessoa memorável?” e “como posso me tornar uma pessoa memorável?” sempre estavam ali.
Pelo que eu queria ser lembrada?
Então, como já estava perdida e desesperada, resolvi voltar ao começo e refazer meus passos. Será que em algum momento eu tinha cometido um erro ou desviado do meu caminho? O que eu estava fazendo claramente não estava funcionando, então precisava desenhar uma nova estratégia para ontem.
Uma coisa em comum entre todas as pessoas que fazem e já fizeram história é que elas não nascem da conformidade, mas da coragem de serem diferentes e de acreditarem que o mundo pode ser transformado pela singularidade de cada visão.
O questionamento do meu professor sobre o que só eu era capaz de fazer acabou sendo exatamente o que eu precisava escutar, pois ninguém nunca tinha me perguntado isso antes. Na minha sede insaciável por conhecimento e desejo contínuo de aprender coisas novas, vi ali a oportunidade de aprender algo que eu não tinha a menor ideia que não sabia.
O mundo e a vida adulta nos cobram muito por resultados, e ficamos sobrecarregados pela pressão de sermos produtivos. Não sobra muito tempo para descobrir e valorizar aquilo que nos torna únicos.
Em menos de dois meses, que foi o tempo que tive para fazer meu projeto do zero, fui capaz de encontrar a resposta para as duas perguntas que passei mais de 20 anos procurando.
É assunto para outro texto, mas apresentei meu projeto e, para minha felicidade e saúde mental, fui aprovada com louvor. Meu trabalho, para meus leitores curiosos, foi sobre processo criativo. Uma metodologia própria que desenvolvi para mapear esses processos e, consequentemente, ser capaz de criar estratégias para maximizar o potencial existente dentro de cada pessoa.
Mas voltando ao tema…
O que torna uma pessoa memorável?
Logo no início deste texto, eu disse que minha versão pequenininha sempre falava “quero ser o Gutemberg quando for grande". Conforme fui crescendo, quis ser a Meryl Streep, a Brené Brown, o Jostein Gaarder e várias outras pessoas.
Eu queria ser essas pessoas porque elas me tocaram e me transformaram de uma forma tão profunda que foram capazes de mudar meu mundo. É sobre todos os conselhos e ensinamentos que me deram sem nunca terem conversado diretamente comigo.
Os grandes inventores e mentes que moldaram a história da humanidade têm a autenticidade como um elemento em comum. São pessoas que, além de terem paixão, resiliência, visão, inteligência, disciplina e curiosidade, para tentar resumir, também se mantêm fiéis aos seus valores e princípios e são verdadeiras consigo mesmas.
O filósofo Kierkegaard afirmava que o maior pecado do ser humano é não querer ser a si mesmo, e que isso é a maior traição à sua própria essência.
E é completamente doido falar isso, mas até eu ter que fazer esse trabalho, não tinha me ocorrido que eu nunca pensei e nem desejei ser eu mesma.
[Qualquer pessoa] - Se você pudesse ser qualquer pessoa do mundo, quem você seria?
[Eu] - Eu mesma. Não tem ninguém mais que eu queira ser além de quem eu nasci para ser.
Hoje, mais do que nunca, sei a importância e a relevância de saber quem eu sou. O verbo "ser" sustenta o verbo "criar", pois ninguém nunca será capaz de criar algo que já não está dentro de si.
Como posso me tornar uma pessoa memorável?
Estudando e me especializando em criatividade, li um livro que explicava que há três principais categorias para a palavra CRIATIVIDADE.
Caracterizada por dar origem a uma obra genial e muito valiosa, que introduz uma novidade ou transformação cultural à qual pertence.
Caracterizada pela criação de uma obra, produto, etc, pessoal e autêntico com talento.
Caracterizada pela capacidade de se expressar, tendo o indivíduo como o centro da atividade.
Levando em conta esses três usos, tudo começa com o 3, que se transforma no 2 e que pode gerar, ou não, o impacto do 1. Nada de transformador aconteceu no mundo sem que antes alguém tivesse imaginado, se expressado e transformado aquilo em realidade.
Enquanto eu estava fazendo o trabalho, percebi o quanto me achava pequena e insignificante comparada com Rosalind Franklin, que descobriu a estrutura do DNA; Thomas Edison, que inventou a lâmpada; Alexander Fleming, que descobriu a penicilina; Albert Einstein, que desenvolveu a teoria da relatividade e assim por diante.
Antes dessas contribuições serem capazes de gerar impacto (3), elas foram idealizadas por essas pessoas (1).
Então, respondendo a esta pergunta, a única maneira de me tornar uma pessoa memorável é se as pessoas souberem no que acredito. É através das coisas que penso, digo, faço e crio consistentemente que, em algum momento, terei a possibilidade real de gerar impacto.
Eu preciso acreditar e confiar em quem eu sou e no que tenho a oferecer.
O que eu sou capaz de criar?
Absolutamente tudo.
Tudo que existe dentro da minha cabeça tem um enorme potencial para existir. Nem sempre é fácil ter tanta confiança assim, então, quando o triplex da dúvida e da insegurança se instaura na minha mente, eu repito esse trechinho para mim mesma quantas vezes forem necessárias até eu voltar a acreditar.
Se eu posso imaginar,
eu posso visualizar;
Se eu posso visualizar,
eu posso realizar.
Complementando o que disse no início, todos nós fazemos parte de uma história. No entanto, acredito que, assim como eu, o que as pessoas realmente desejam é ter uma história digna de ser contada. Queremos deixar uma marca, algo que continue existindo quando já não estivermos mais aqui. É aquele velho medo da mortalidade: o desejo de não sermos esquecidos.
Afinal, não basta apenas participar da vida, queremos que nossa passagem tenha significado, que ecoe de alguma forma no mundo.
Passei boa parte da minha vida tentando desvendar dois enigmas e finalmente posso dizer que resolvi. Mas, igual aos quebra-cabeças, quando um acaba, sempre tem o próximo. Então, está na hora de um novo enigma: o que estou pronta para criar?
Eu não sei, mas estou louca para descobrir!
Beijinhos e até semana que vem! 🙃
P.S.: E só para reforçar, caso eu não tenha sido clara o bastante, pessoas memoráveis não são nada além delas mesmas. Então seja você!
P.S.S.: Caso ainda não tenha se inscrito na Eniigmus, agora é a hora! Ela é gratuita e vai ser ótimo te ter por aqui.
P.S.S.S.: Curtiu o texto? Lembrou de alguém enquanto estava lendo? Te convido a compartilhar esse texto com essas pessoas. Repetindo o sábio conselho da minha avó: “escuta seu coração, ele vai te mostrar a direção”.
Sobre a Eniigmus
Eniigmus é uma newsletter que criei para ser um porto seguro. Um lugar que nos permita redescobrir quem somos e o que desejamos. Ela é um laboratório vivo de experimentação para transformarmos nossos sonhos em realidade.
A cada semana, trarei reflexões sobre aspectos que são peças fundamentais para desvendar o enigma do ano: O que você e eu estamos prontos para criar?
Você já pensou sobre isso? Se eu te perguntasse isso agora, bate bola, jogo rápido, o que você responderia? Deixe um comentário, estou muito curiosa para saber. E está tudo bem se o comentário for algo tipo “putz, não faço a menor ideia”.
Se, assim como eu, você não sabe a resposta, aqui é o lugar certo! É sobre isso que vamos conversar. Em cada texto, exploraremos estratégias e habilidades que nos ajudarão a solucionar esse mistério, combinando criatividade, autoconhecimento, referências e muita curiosidade.
Lembre-se: a criatividade não surge do nada, mas do entendimento profundo de quem somos e do potencial que carregamos. Conhecer e entender quem somos é uma jornada de descoberta, não de invenção.
Promessa de dedinho: aqui, eu garanto, o enigma vai além de um simples mistério a ser resolvido; é um convite para explorar o que há de incrível dentro de você.
O enigma está esperando para ser desvendado. Topa encarar?
eu fiquei presa em cada linha! quando fui lendo revivi a Vitória de 5 anos, 10 anos, 15 anos e a de agora. parabéns pela escrita. vc é perfeita e tô ansiosa para os próximos textos. eu top embarcar nessa com você ❤️
Adorei o texto! Linguagem simples e compreensível. Faz o leitor se adentrar em pensamentos e reconhecimento. Incrível! Espero que venha cada vez mais!